segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Conheça histórias de mulheres que mutilam o corpo em busca da felicidade

Especialistas alertam para o risco da dismorfofobia, um distúrbio explicado pela preocupação excessiva com defeito inexistentes ou mínimos na aparência física. Pacientes que não aceitam o corpo como ele é podem até tentam tirar a própria vida por não conseguirem parar com os procedimentos.

Na primeira foto, Jenny Lee, aos 15 anos. Na segunda, aos 38, depois de passar por 59 procedimentos estéticos

“Quando olho meu reflexo no espelho, ainda não gosto do que vejo. Estou tentando crescer, me aceitar. Se eu pudesse simplesmente ficar ok quanto a isso, eu seria muito feliz”. Depois de passar por 59 procedimentos estéticos, a aspirante a modelo e atriz, Jenny Lee, de 38 anos, admitiu recentemente os transtornos causados pelo seu vício em cirurgia plástica. Em entrevista concedida à apresentadora de TV Oprah Winfrey, Lee contou, emocionada, que a filha não a reconhece em fotos antigas e que hoje elas não se parecem em absolutamente nada.


Apesar de ainda não existirem estatísticas que comprovem o número de casos de vício em cirurgia plástica no país e no mundo, histórias como a de Lee são cada vez mais recorrentes. Em 2013, mais de 23 milhões de pessoas foram submetidas a algum procedimento estético, segundo dados do International Society Aesthetic Plastic Surgery (Isaps). Pela primeira vez na história, o Brasil ficou à frente dos Estados Unidos no número de cirurgias plásticas realizadas. No ranking das intervenções, o implante nos seios ocupa o primeiro lugar, seguido da lipoaspiração e da blefaroplastia (cirurgia nas pálpebras). Segundo a psiquiatra Gilda Paoliello, as submissões aos padrões estéticos sempre existiram na história mas, na nossa geração, a conduta ultrapassou todos os limites.

“Quem tem 60 anos quer parecer ter 40, quem tem 40, 30, e assim por diante. Ao contrário do que seria esperado, esses avanços não foram acompanhados do equivalente em felicidade e bem-estar. O que encontramos é uma taxa crescente de mal-estar, contabilizada nas estatísticas sobre depressão e quadros afins”, explica Paoliello.


É o caso da ex-modelo Alicia Douvall, de 34 anos, que tentou se matar por não conseguir conter o vício. Os mais de 350 procedimentos cirúrgicos realizados fizeram com que Douvall acumulasse uma dívida muito grande e não conseguisse pagá-la. Com uma filha pequena e outra adolescente, ela tentou tirar a própria vida misturando uma grande quantidade de medicamentos com álcool. A tentativa, porém, foi frustrada. Em entrevista ao jornal britânico Mirror, a ex-modelo disse que o susto serviu para mudar de vida. “Agora eu não quero nada além de estar presente no futuro das minhas filhas. Eu não quero que elas cometam os erros que cometi”, declarou.


Quando a prática vira doença

O vício em cirurgia plástica pode ser explicado de duas formas: por um transtorno psíquico, chamado dismorfofobia, ou por uma atitude despreocupada e negligente. O cirurgião plástico Vinícius Melgaço explica que, no primeiro caso, o paciente tem uma preocupação obsessiva com algum defeito inexistente ou mínimo na aparência física. A principal característica é de descontentamento com a própria imagem. “É aquela pessoa que coloca uma prótese de silicone de 200ml hoje e amanhã quer de 300ml. Aquela que tem um nariz normal, mas enxerga ele muito feio e diz que não consegue viver com aquilo”, explica.


A modelo francesa Victoria Wild, de 30 anos, gastou aproximadamente 30 mil euros para se transformar em uma boneca inflável de verdade

Outra forma de adquirir o vício é banalizar os procedimentos. O médico explica que em alguns casos, o paciente não sofre do transtorno psíquico, mas encara as cirurgias de uma forma muito tranquila, até porque, na maioria das vezes, são operações de superfície, com pós-operatório rápido. Segundo o especialista, essas características podem fazer com que a pessoa perca o medo e o controle. "Neste caso, a responsabilidade é do profissional. Indicar ou contra indicar uma cirurgia tem que partir do médico e não do paciente", finaliza.


Um exemplo que se encaixa nessa banalização das cirurgias é o da apresentadora Andressa Urach, de 27 anos, internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) de um hospital em Porto Alegre desde o último 29 de novembro. Ela chegou a ficar entre a vida e a morte por causa de uma infecção nas pernas, decorrente da aplicação do hidrogel – uma espécie de silicone que engrossa a região. “Sempre fui doente por cirurgia plástica, sem limites. Se pudesse voltar no tempo, nunca teria colocado isso”, disse recentemente a site de notícias sobre celebridades. Além de se submeter à aplicação de hidrogel, Urach tem dois implantes de silicone, fez preenchimento nos lábios, lipoaspiração, bioplastia e uma cirurgia íntima.


Sem exageros

O risco do vício fica praticamente descartado quando a cirurgia é feita para reparar um dano ou melhorar a imagem de uma parte do corpo. A publicitária Naiara Lança, de 28 anos, recorreu à mamoplastia com prótese depois de amamentar o filho, hoje com 7 anos. “Estava com 22 anos e depois que o leite secou, meus seios ficaram caídos, então decidi que não poderia ficar assim: jovem e insatisfeita com meu corpo”, diz. Ela consultou um cirurgião que recomendou o procedimento com implante da prótese de silicone atrás com músculo, o que daria um resultado mais natural.


Naiara Lança fez implante de silicone nos seios depois de amamentar o filho, mas não vê risco de ficar viciada em cirurgia plástica
A favor das cirurgias estéticas, ela defende a vaidade e não descarta a possibilidade de fazer uma abdominoplastia caso tenha um segundo filho. A publicitária reconhece, porém, os riscos e as dores presentes em alguns procedimentos. “Acaba que a gente faz essas coisas pra ficar bem com a gente mesma, mas há limite. No rosto eu não faria. No máximo, usaria esses cremes anti-idade, que inclusive, já comecei a usar este ano, com o objetivo de prevenção”, explica.


Para Paoliello e Melgaço, em todos os casos, é imprescindível o alerta do profissional sobre o risco de vício ou de uma cirurgia desnecessária. “Se ele perceber que o paciente não está psicologicamente preparado para a cirurgia, ou que o que o paciente solicita tem uma conotação deslocada, ele deve encaminhar esta pessoa ao psiquiatra”, alerta a especialista.



Fonte: Uai