A imagem corporal é a percepção que temos de nós próprios e o que idealizamos ao pensarmos nos nossos corpos e aparência física. A imagem corporal é influenciada pelos padrões estipulados pela sociedade e a cultura que nos rodeia. A nossa família e as experiências individuais influenciam também a nossa imagem corporal.
Perceber certas características em nós mesmos como falhas, como um dente torto ou coxas com estrias, está longe de ser incomum ou anormal. Mas o desenvolvimento de uma obsessão por essas supostas falhas em nossa aparência é conhecido como transtorno dismórfico corporal (TDC).
O TDC afeta algo entre 1,7 e 2,4% da população geral, que é de cerca de 1 em 50 pessoas. O distúrbio, que pode afetar homens e mulheres, é classificado no espectro obsessivo-compulsivo.
Isso significa que a pessoa afetada provavelmente recorrerá a comportamentos compulsivos para lidar com o que eles acreditam ser imperfeições. Por exemplo, alguém com acne pode constantemente escolher em sua pele.
Aqueles com BDD também podem se sentir muito desconfortáveis quando se olham no espelho ou gastam uma quantidade excessiva de tempo comparando suas partes do corpo com as dos outros. A comparação é frequentemente realizada com celebridades que são uma preocupação comum entre os jovens, particularmente adolescentes.
Embora os anúncios de capas de revistas e campanhas publicitárias tenham sido anunciados no passado por promoverem padrões irrealistas de beleza, pesquisadores do Boston Medical Center acreditam que o mesmo ciclo está sendo propagado por mídias sociais e aplicativos de edição de fotos para smartphones.
Seu novo estudo foi publicado na revista JAMA Facial Plastic Surgery em 2 de agosto.
Artur Debat via Getty Images
Os pesquisadores argumentaram que as percepções de beleza estão sendo influenciadas por selfies filtradas de nossos próprios amigos e colegas. Eles destacaram como as pessoas que sofrem com o BDD hoje podem procurar mídias sociais em busca de validação.
Mas a tecnologia pode ter um impacto prejudicial, já que um dos estudos citados mostrou como as adolescentes manipulam suas fotos online quando se preocupam mais com a aparência do corpo. Outra descoberta revelou que quase 55 por cento dos cirurgiões plásticos relatam ter visto pacientes que procuram por eles com a intenção de melhorar a aparência deles em selfies.
"Um novo fenômeno chamado 'dismorfia de Snapchat' apareceu onde os pacientes estão procurando uma cirurgia para ajudá-los a aparecer como as versões filtradas de si mesmos", disse Neelam Vashi, diretora do Centro de Pele Étnica da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston.
"Selfies filtradas podem fazer com que as pessoas percam o contato com a realidade, criando a expectativa de que devemos estar perfeitamente preparadas o tempo todo."
Embora a maioria das pessoas possa tomar selfies sem enfrentar tais problemas, Vashi observou que as pessoas que têm sintomas de dismorfia corporal podem achar que sua obsessão começa a piorar. Adolescentes estão entre aqueles que estão em maior risco para o TDC, disse ela, tornando importante para os profissionais de saúde compreender as implicações das mídias sociais na imagem corporal.
Cirurgia estética não é recomendada por especialistas nesses casos. A Associação de Ansiedade e Depressão da América lista a terapia cognitivo-comportamental como a primeira escolha de tratamento para aqueles que sofrem do transtorno.
Transtorno Dismórfico Corporal atinge 0,5% da população, principalmente jovens.
Por Felipe Bueno
A jornalista Daiana Garbin, 34, esposa de Tiago Leifert e conhecida dos telejornais da rede Globo São Paulo, é aos olhos de amigos e familiares uma mulher linda e magra. Ela, porém, desde os 12 anos, tem uma dificuldade de enfrentar o espelho diariamente. Ver o seu corpo refletido tornou-se um problema, pois a imagem que tem de si não corresponde com aquilo que é na realidade. Ela se sente gorda, embora o seu índice de massa corporal esteja dentro do que é considerado normal pela medicina. Há cerca de um ano, ela foi diagnosticada com o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC).
Depois de um depoimento corajoso (vídeo acima), dado em seu canal do YouTube, “EuVejo”, o caso de Daiana Garbin ganhou repercussão e trouxe à luz a dismorfia da imagem, popularmente conhecida como doença da beleza. O primeiro episódio de descontentamento de Daiana se deu ainda criança. Aos 5 anos, sua mãe foi buscá-la no balé e se surpreendeu ao vê-la chorar, pois se achava a mais gordinha entre as meninas. Mais tarde, Diana chegou a fazer três lipoaspirações e tomar remédios para emagrecer, mas continuava insatisfeita com o corpo. “Eu sempre me vi maior do que sou. Me via mais alta e larga. Sentia que a minha caixa torácica era larga, os braços largos e grossos como de um homem, a cabeça grande. Sempre achei meu quadril largo e a bunda grande”, diz.
Segundo o psiquiatra Eduardo Aratangy, do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) é caracterizado por uma preocupação excessiva com a própria aparência e por uma tendência de enxergar uma pequena imperfeição de modo exagerado ou mesmo imaginar ter um defeito que não existe.
“O Transtorno Dismórfico Corporal é um quadro psiquiátrico. A pessoa passa a sofrer muito em decorrência de algum pequeno defeito corporal, podendo este ser até imaginário. O indivíduo passa a não aceitar uma parte do corpo, que pode ser a face, o nariz, o cabelo, alguma mancha ou marca, um membro do corpo como barriga e perna”, exemplifica.
Incidência
A patologia, segundo o especialista, atinge 0,5% da população geral. A incidência é maior nas mulheres e em pessoas com idades entre 20 e 25 anos. Entre as pessoas que procuram dermatologista, 15% apresentam dismorfia corporal, já os que recorrem aos cirurgiões plásticos, a recorrência é de 16%.
Parte dessa estatística, Daiana vem tentando vencer essa experiência de não aceitação do corpo. “Eu nunca tinha contado para ninguém. Tinha vergonha. Eu sempre falava que me achava gorda e as pessoas não costumam entender esse tipo de doença, por falta de informação. Foi quando percebi que era preciso falar sobre isso”, comenta a jornalista.
O cuidado com a aparência tem pautado cada dia mais a rotina das pessoas. Porém, é preciso estar atento à diferença entre ser vaidoso e ter um comportamento obsessivo em relação ao cuidado com o corpo. Para Aratangy, os transtornos mentais são exacerbações de características normais. “A tristeza é um sentimento normal. Quando é algo invasivo e determinante na vida, torna-se uma patologia. É o caso da depressão. É natural ter preocupação com o corpo, com a aparência, acordar um dia, olhar-se no espelho e não sentir-se bem. Quando essa preocupação se torna obsessiva, passa a ser uma doença”.
A modelo Camila Carolina Ferreira, 27, nascida em Cuiabá e radicada em Goiânia, nunca se sentiu satisfeita com o corpo. Quando ingressou no mundo da moda, aos 14 anos, a cobrança com a beleza passou a ser maior. “Antes de ser diagnosticada (com Transtorno Dismórfico Corporal), eu me sentia gorda e inadequada o tempo todo. As pessoas que conviviam comigo, principalmente no meu trabalho, diziam que eu estava muito magra, mas mesmo assim eu não conseguia me enxergar magra”, comenta.
Em decorrência da doença, Camila abandonou alguns hábitos comuns. Deixou de sair à noite, passou a evitar as pessoas e o convívio social, deixou de ir a lugares que fossem ter comida, como festas de aniversário. Abandonou também o uso de biquíni e roupas que marcassem ou mostrassem sua barriga. Embora tenha 1,72 m, a ex-modelo que já pesou 46 kg, e agora pesa 53 kg, é categórica ao dizer que não gosta de sua barriga.
Como observado por Aratangy, pacientes que têm esse transtorno apresentam retração social. O indivíduo deixa de viver e frequentemente tem sintomas depressivos. “Primeiramente, desenvolve uma preocupação com algum aspecto da sua aparência. A incapacidade de se desfazer desses pensamentos, a preocupação constante, faz com que não consigam desenvolver suas atividades normalmente”, expõe.
“Eu perdi alguns amigos e quase perdi meu namorado (um relacionamento de oito anos). Minha vida profissional também foi prejudicada, pois, por conta do tratamento e dos medicamentos, tive e tenho que me ausentar várias vezes do trabalho. Não perdi o emprego, mas senti que isso foi ruim para minha carreira”, revela Camila, profissional de relações internacionais. Ela foi diagnosticada no início de 2015 e, desde então, faz tratamento psiquiátrico aliado a medicamentos e acompanhamento de psicólogo e nutricionista. “Hoje me considero no meio do meu tratamento, me sinto bem, vejo o meu corpo bonito e magro”, completa.
Daiana Garbin dá seu depoimento
Ao expor o seu problema, a jornalista Daiana Garbin trouxe à tona a discussão sobre um assunto ainda pouco estudado – o Transtorno Dismórfico Corporal. Embora tenha trabalhado como repórter de TV, ela confessa que nunca gostou de se ver na telinha.
Depois de ser diagnosticada com o transtorno, ela começou a pesquisar sobre o tema e sentiu a necessidade de falar sobre isso. Em seu canal do YouTube, “Eu Vejo”, ela se dedica a trocar com o público relatos sobre suas experiências. Ela acredita que as pessoas estão vivendo um momento de grande exposição com as redes sociais e que isso é algo prejudicial. “As pessoas se comparam com as outras. Comparam as próprias vidas e o corpo que têm. E passam a se cobrar por aquilo”, exemplifica.
“Eu acho que a mídia contribui para que as mulheres se sintam aprisionadas de alguma maneira. As revistas de moda mostram modelos extremamente magras. A moda nos faz sentir fora do padrão. Eu acho que os estilistas e a indústria da moda deveriam usar modelos com o corpo da mulher brasileira. As marcas, se fizessem isso, com certeza venderiam muito mais”.
Para driblar a doença, ela cola no espelho do seu banheiro post-it com mensagens para elevar a sua autoestima. “Eu sempre chorava, insatisfeita com minha aparência. Jurei que nunca mais ia passar por isso. Eu leio as mensagens que colo no espelho todos os dias, sorrio para mim mesma. Isso tem me ajudado muito”.
A descoberta da doença veio com uma indagação de sua terapeuta, que costumava achar estranho a não aceitação de Daiana pelo seu corpo. Ela confrontou a jornalista com fotos suas e percebeu que nunca foi gorda. Outra técnica foi colocá-la para ocupar espaços que ela acredita que não poderia ocupar, por se ver maior do que realmente é.
“Eu faço acompanhamento com psicólogo uma vez por semana. Quando estou com uma questão mais forte, faço duas sessões por semana. Eu precisei ter coragem pra mostrar o meu sofrimento, para mostrar que todos nós temos fraquezas, somos vulneráveis”, comenta Daiana, que no momento está no processo de escrita de um livro sobre seu transtorno, resultado do conteúdo que vem produzindo para o seu canal do YouTube. A obra está prevista para ser lançada no início de 2017 pela editora Sextante.
Depois de perceber que o problema que tinha não era meramente excesso de vaidade, Daiana, que sempre teve uma relação difícil com a comida e o seu corpo, vem vencendo o descontentamento que tem de sua imagem. Em sua última matéria, para o telejornal “SPTV”, da rede Globo, que foi ao ar em abril deste ano, a jornalista conseguiu superar a vergonha em usar roupas que revelassem o seu corpo.
“Eu sempre tive vergonha de ir à praia. O máximo que faço é correr no calçadão com roupa de ginástica. Eu acho que evolui muito nessa questão. Eu tenho arriscado sair com roupas mais justas. No meu último dia como repórter da Globo, estava fazendo muito calor em São Paulo. Eu sai no vídeo da reportagem com uma blusa de manga curta. Isso foi uma vitória para mim. Há dois anos, jamais conseguiria fazer isso. A gente tem que vencer nossos medos e nossas vergonhas. Não precisamos de um corpo diferente, a gente precisa mudar a nossa mente. Comecei, primeiro, a entender que o problema estava na minha mente, e, segundo, que o corpo não é o mais importante”, conclui. Padrão estético estimula distúrbio
Ainda que um tema pouco estudado, a professora de psicologia da Universidade Veiga de Almeida (UVA), no Rio de Janeiro, Joana de Vilhena Novaes – organizadora do livro “Que Corpo É Este que Anda Sempre Comigo?” –, revela que o Transtorno Dismórfico Corporal vem crescendo nos últimos anos e é um distúrbio predominantemente feminino.
“Mesmo com todos os avanços conseguidos pelo feminismo, a sociedade, sobretudo no Brasil, onde a mulher é vista como um objeto, é falocêntrica. Existe uma super exploração do corpo da mulher pela mídia. Há uma opressão forte que incide sobre a mulher. A socialização da mulher, por exemplo, dá-se em torno da beleza. Diferentemente do homem, que se dá através do dinheiro. O nosso imaginário tem um olhar condescendente com o homem. A barriguinha lhe confere um charme. Essa condescendência a gente não vê com a mulher”, observa.
O culto à beleza e os padrões impostos foram determinantes para que a ex-modelo e analista de comércio exterior Camila Carolina Ferreira, 27, desenvolvesse o distúrbio. “Existe uma sociedade que nos fere ao colocar um padrão de beleza. A sociedade exige um padrão de magreza tão absurdo que nem algumas modelos conseguem se enquadrar, como foi no meu caso. Eu era cobrada o tempo todo a ficar cada vez mais magra, e nunca era suficiente para o mundo da moda”.
A preocupação excessiva da agente de saúde e catarinense de Brusque, Talita Sestrem Teske, 21, com a própria aparência, começou aos 10 anos. “A sociedade e a mídia, em si, cobram as mulheres serem bonitas. Isso mexe muito com o nosso psicológico, e nos faz acreditar que somos feias se não tivermos aquele biotipo”.
Há cerca de três anos, percebeu que o seu incômodo ultrapassava o limite comum e foi diagnosticada com Transtorno Dismórfico Corporal. “Antes eu não sabia que isso tinha um nome, só odiava a imagem que via no espelho”, expõe. Talita costuma se ver muito acima de seu peso e diz ter dificuldade de se enxergar bonita. “Fujo dos espelhos e de fotos. Se eu não me vejo, não me incomodo tanto. As pessoas acham que eu sou exagerada e que me vejo muito maior do que realmente sou”, conta.
Sinais
Para Joana de Vilhena Novaes, familiares e amigos têm de estar atentos aos sinais para identificar o transtorno. “Quando uma pessoa tem uma mudança de rotina significativa, em um curto espaço de tempo, e começa restringir a alimentação e ter uma perda da vida social, isso pode indicar que ela tenha desenvolvido o transtorno”, aponta.
Ao chegar ao trabalho, a enfermeira Fernanda Espinosa Pavulack, 31, natural de Pelotas, Rio Grande do Sul, costuma receber dos colegas palavras de encorajamento. “Fernandinha, você está muito magrinha”, dizem uns. Outros comentam: “Fernandinha, você está bem assim”. Porém, ela não se convence disso e se sente descontente com a sua imagem.
Ela usa roupas largas e grandes. Não se toca e não se olha no espelho. Também não anda de salto, pois diz se sentir grande e gorda. Arrumar-se e se maquiar são hábitos que não fazem parte da sua vida. Para ela, quanto mais desapercebida passar, melhor. “Eu tomo banho com a luz apagada para não ver meu corpo, não me toco no banho para não sentir minhas gorduras. Quando estou no claro, fecho os olhos e só abro quando estou vestida”, confidencia.
Fernanda, depois de ser internada, vem sendo acompanhada por nutricionista, psicólogo, médico clínico e psiquiatra. Na primeira vez em que foi para o hospital, em função da falta de se alimentar e emagrecimento excessivo, foi no ano 2000. “Eu cheguei a parar de menstruar, perdi cabelo, meu brilho, o controle da minha vida. Eu estava pálida, triste. Mas tudo bem, eu estava magra”, relembra ela.
Tratamento
O psiquiatra Eduardo Aratangy, do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, salienta que o tratamento para quem apresenta o Transtorno Dismórfico Corporal deve ser realizado em três linhas: o farmacológico, acompanhamento médico e a psicoterapia.
“O tratamento psicoterápico mais estudado é o cognitivo comportamental. Nesta terapia, de percepção corporal, o indivíduo aprenderá a lidar melhor com a sua imagem”, destaca. “Um ponto importante, a ser observado, é que as pessoas que apresentam dismorfia recorrem primeiro a cirurgiões plásticos e não procuram psiquiatras. O sofrimento dessas pessoas é algo real. Não é uma escolha, muito menos uma futilidade”, completa Aratangy.
A psicóloga Joana Novaes defende que, no âmbito da profilaxia, é preciso atuar conjuntamente com a educação. “Desde cedo, é preciso criar contrapontos e questionar os padrões de beleza, na escola e no ambiente familiar, para que as crianças criem consciência. É necessário trabalhar o empoderamento desde os primeiros anos. A medicina não consegue promover esse debate sem ter a mobilização de pais e professores. A partir da formação de uma massa crítica, a gente consegue criar uma frente a essa cultura da beleza”, defende Joana.
Especialistas alertam para o risco da dismorfofobia, um distúrbio explicado pela preocupação excessiva com defeito inexistentes ou mínimos na aparência física. Pacientes que não aceitam o corpo como ele é podem até tentam tirar a própria vida por não conseguirem parar com os procedimentos.
Na primeira foto, Jenny Lee, aos 15 anos. Na segunda, aos 38, depois de passar por 59 procedimentos estéticos
“Quando olho meu reflexo no espelho, ainda não gosto do que vejo. Estou tentando crescer, me aceitar. Se eu pudesse simplesmente ficar ok quanto a isso, eu seria muito feliz”. Depois de passar por 59 procedimentos estéticos, a aspirante a modelo e atriz, Jenny Lee, de 38 anos, admitiu recentemente os transtornos causados pelo seu vício em cirurgia plástica. Em entrevista concedida à apresentadora de TV Oprah Winfrey, Lee contou, emocionada, que a filha não a reconhece em fotos antigas e que hoje elas não se parecem em absolutamente nada.
Apesar de ainda não existirem estatísticas que comprovem o número de casos de vício em cirurgia plástica no país e no mundo, histórias como a de Lee são cada vez mais recorrentes. Em 2013, mais de 23 milhões de pessoas foram submetidas a algum procedimento estético, segundo dados do International Society Aesthetic Plastic Surgery (Isaps). Pela primeira vez na história, o Brasil ficou à frente dos Estados Unidos no número de cirurgias plásticas realizadas. No ranking das intervenções, o implante nos seios ocupa o primeiro lugar, seguido da lipoaspiração e da blefaroplastia (cirurgia nas pálpebras). Segundo a psiquiatra Gilda Paoliello, as submissões aos padrões estéticos sempre existiram na história mas, na nossa geração, a conduta ultrapassou todos os limites.
“Quem tem 60 anos quer parecer ter 40, quem tem 40, 30, e assim por diante. Ao contrário do que seria esperado, esses avanços não foram acompanhados do equivalente em felicidade e bem-estar. O que encontramos é uma taxa crescente de mal-estar, contabilizada nas estatísticas sobre depressão e quadros afins”, explica Paoliello.
É o caso da ex-modelo Alicia Douvall, de 34 anos, que tentou se matar por não conseguir conter o vício. Os mais de 350 procedimentos cirúrgicos realizados fizeram com que Douvall acumulasse uma dívida muito grande e não conseguisse pagá-la. Com uma filha pequena e outra adolescente, ela tentou tirar a própria vida misturando uma grande quantidade de medicamentos com álcool. A tentativa, porém, foi frustrada. Em entrevista ao jornal britânico Mirror, a ex-modelo disse que o susto serviu para mudar de vida. “Agora eu não quero nada além de estar presente no futuro das minhas filhas. Eu não quero que elas cometam os erros que cometi”, declarou.
Quando a prática vira doença
O vício em cirurgia plástica pode ser explicado de duas formas: por um transtorno psíquico, chamado dismorfofobia, ou por uma atitude despreocupada e negligente. O cirurgião plástico Vinícius Melgaço explica que, no primeiro caso, o paciente tem uma preocupação obsessiva com algum defeito inexistente ou mínimo na aparência física. A principal característica é de descontentamento com a própria imagem. “É aquela pessoa que coloca uma prótese de silicone de 200ml hoje e amanhã quer de 300ml. Aquela que tem um nariz normal, mas enxerga ele muito feio e diz que não consegue viver com aquilo”, explica.
A modelo francesa Victoria Wild, de 30 anos, gastou aproximadamente 30 mil euros para se transformar em uma boneca inflável de verdade
Outra forma de adquirir o vício é banalizar os procedimentos. O médico explica que em alguns casos, o paciente não sofre do transtorno psíquico, mas encara as cirurgias de uma forma muito tranquila, até porque, na maioria das vezes, são operações de superfície, com pós-operatório rápido. Segundo o especialista, essas características podem fazer com que a pessoa perca o medo e o controle. "Neste caso, a responsabilidade é do profissional. Indicar ou contra indicar uma cirurgia tem que partir do médico e não do paciente", finaliza.
Um exemplo que se encaixa nessa banalização das cirurgias é o da apresentadora Andressa Urach, de 27 anos, internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) de um hospital em Porto Alegre desde o último 29 de novembro. Ela chegou a ficar entre a vida e a morte por causa de uma infecção nas pernas, decorrente da aplicação do hidrogel – uma espécie de silicone que engrossa a região. “Sempre fui doente por cirurgia plástica, sem limites. Se pudesse voltar no tempo, nunca teria colocado isso”, disse recentemente a site de notícias sobre celebridades. Além de se submeter à aplicação de hidrogel, Urach tem dois implantes de silicone, fez preenchimento nos lábios, lipoaspiração, bioplastia e uma cirurgia íntima.
Sem exageros
O risco do vício fica praticamente descartado quando a cirurgia é feita para reparar um dano ou melhorar a imagem de uma parte do corpo. A publicitária Naiara Lança, de 28 anos, recorreu à mamoplastia com prótese depois de amamentar o filho, hoje com 7 anos. “Estava com 22 anos e depois que o leite secou, meus seios ficaram caídos, então decidi que não poderia ficar assim: jovem e insatisfeita com meu corpo”, diz. Ela consultou um cirurgião que recomendou o procedimento com implante da prótese de silicone atrás com músculo, o que daria um resultado mais natural.
Naiara Lança fez implante de silicone nos seios depois de amamentar o filho, mas não vê risco de ficar viciada em cirurgia plástica
A favor das cirurgias estéticas, ela defende a vaidade e não descarta a possibilidade de fazer uma abdominoplastia caso tenha um segundo filho. A publicitária reconhece, porém, os riscos e as dores presentes em alguns procedimentos. “Acaba que a gente faz essas coisas pra ficar bem com a gente mesma, mas há limite. No rosto eu não faria. No máximo, usaria esses cremes anti-idade, que inclusive, já comecei a usar este ano, com o objetivo de prevenção”, explica.
Para Paoliello e Melgaço, em todos os casos, é imprescindível o alerta do profissional sobre o risco de vício ou de uma cirurgia desnecessária. “Se ele perceber que o paciente não está psicologicamente preparado para a cirurgia, ou que o que o paciente solicita tem uma conotação deslocada, ele deve encaminhar esta pessoa ao psiquiatra”, alerta a especialista.
A busca pelo corpo perfeito não é exclusividade feminina. Jovens e adultos malham durante horas para garantir seus músculos, e detalhe: quase nunca se sentem satisfeitos com o corpo e a imagem que conquistam. Um estudo realizado em Minnesota (Estados Unidos) com 1.307 adolescentes e publicado no jornal americano "Pediatrics", em novembro de 2012, revelou que 90% deles se exercitam apenas para ganhar músculos.
Estes jovens que cultuam a forma física em excesso e que fazem de tudo pelo corpo perfeito, desrespeitando ainda o "mente sã, corpo são", podem sofrer de um distúrbio chamado 'vigorexia'. A pessoa que tem esse problema, também conhecido como 'Síndrome de Adônis', em referência ao deus grego da beleza, nunca está satisfeito com sua imagem corporal. Devido a isso, o treinamento ou musculação se torna uma obsessão prejudicando as saúdes física e mental.
No mundo dos famosos, por exemplo, o site britânico "Daily Mail" levantou recentemente a hipótese de que a rainha do pop, Madonna, pode sofrer desse exagero na musculação e dieta, uma vez que ela malharia horas por dia e seis vezes por semana. Embora tenham a mesma raiz, a distorção da imagem corporal, a vigorexia é o oposto da anorexia. Enquanto esta faz com que as meninas se olhem e se sintam sempre gordas, os vigoréxicos já têm uma musculatura bem definida, mas sempre se acham magros e fracos e, por isso, vivem na academia.
O diagnóstico das pessoas com vigorexia pode ser identificado a partir de comportamentos típicos, como treinamento excessivo, distorção da imagem corporal, baixa autoestima e as modificações preocupantes na dieta, além da tendência a se automedicar. Sem contar que os vigoréxicos fogem de situações nas quais o corpo possa ser exposto, desistindo de atividades sociais.
O transtorno, explica Cezar Vicente Jr, nutricionista especialista em transtornos alimentares, que trabalha no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em São Paulo, é conhecido como 'dismorfia muscular' ou 'bigorexia'. O termo tem origem nas palavras "vigor", que significa força; e "Oréxis", que significa fome, apetite. Daí que o sentido de vigorexia pode ser entendido como "o apetite por ficar cada vez mais forte".
A vigorexia foi recentemente incluída no novo manual de psiquiatria americano (DSM-V, 2013) e classificada como um subtipo do Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), um problema de saúde mental relacionado com a imagem corporal. "Ainda existem poucos estudos sobre o tema e por isso há dificuldades para avaliar a prevalência de vigorexia na população. Entretanto, os que existem mostram que a maioria dos vigoréxicos são homens, mas pode ocorrer em mulheres também", explica Cezar, membro do Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares (Genta).
Muitas mulheres têm uma relação complexa com o espelho, pois estão insatisfeitas com o que veem. Em vez de focar nos aspectos negativos, elas deveriam olhar para si e encarar o reflexo como uma oportunidade de reconhecer a própria beleza. De acordo com uma nova pesquisa realizada pela marca Dove, uma em cada três mulheres se sente ansiosa e quase nunca sorri para si mesma ao olhar para o espelho e ver sua imagem refletida.
Para mostrar às mulheres que a beleza deve ser uma fonte de confiança e não de ansiedade, a marca produziu o vídeo Espelhos, que mostra a reação das mulheres quando veem seus próprios reflexos, em contraste com a reação de meninas quando se enxergam refletidas. No filme, as mulheres não gostam de ver as próprias imagens, enquanto as crianças adoram se olhar. A ideia é encorajar as mulheres a sorrir quando olham no espelho.
"A mulher tende a ser muito autocrítica ao se olhar no espelho e isso, em geral, afeta sua confiança pessoal e felicidade com relação à beleza", diz Denise Door, gerente de marketing de Dove.
Ansiedade sobre a beleza
Quando se olham no espelho, 60% das mulheres não veem apenas a aparência, mas também as emoções refletidas, o que está enraizado na ansiedade. Segundo o estudo de Dove, uma em cada três escolhe um adjetivo negativo para se descrever. Para a Marca, encorajar mulheres a desenvolver um relacionamento positivo com a beleza - o que muitas vezes começa com o simples fato de gostar do seu próprio reflexo - pode ajudar a elevar a autoestima.
Meninas "refletem" o comportamento de suas mães
Ainda segundo o estudo, é importante que as mães reconheçam a própria beleza, pois as filhas sempre são influenciadas pelos exemplos positivos – especialmente se os temas são beleza, confiança e autoestima.
Dove convida as mulheres a recuperar a alegria ao ver o próprio reflexo no espelho e transmitir esse sentimento para as próximas gerações. Com o programa de autoestima, a marca já alcançou 12 milhões de jovens e estabeleceu uma meta de multiplicar a mensagem para 15 milhões até o final de 2015.
Quanto mais olha, menos gosta
As mulheres se olham no espelho mais de seis vezes ao dia, totalizando uma média de 50 minutos, durante um período de 24 horas.Um quinto das mulheres diz que nunca foram felizes com o próprio reflexo, citando o espelho como seu crítico mais cruel. Apesar de não gostar do que veem, elas se tornam ainda mais ansiosas e querem se olhar cada vez mais – sempre que há uma oportunidade. Nos espelhos do carro (50%), em vitrines (48%) e em elevadores (44%).
O vídeo Espelhos convida as mulheres a recuperar o entusiasmo de ver a sua imagem refletida.
A dismorfofobia, também denominada transtorno dismórfico corporal ou síndrome da distorção da imagem, é um transtorno da percepção e valorização corporal; consiste em uma preocupação exagerada com algum defeito, inexistente, na aparência física, ou ainda, uma valorização desproporcional de possíveis anomalias físicas que poderiam manifestar-se.
A fobia de deformação física é um quadro clínico bastante frequente; quem sofre a convicção obsessiva de ter uma parte ou todo corpo deformado se angustia com sua suposta "feiura" e tendem a deixar que minúsculas imperfeições assumam uma importância desmesurada. Afeta pessoas atraentes e não atraentes. As queixas podem concretizar-se em qualquer parte do corpo; as pesquisas demonstram que em 45% dos casos, a queixa centra-se no nariz, embora as alterações, imaginarias ou mínimas, podem também se referir à cara (espinhas, boca, mandíbula), barriga, cabelo, busto, pés, mãos, genitais, pernas, ao peso, estatura, traseiro, etc.
Observa-se essa fobia, ou medo, de ter um aspecto anormal, mais frequentemente nos adolescentes, de ambos os sexos, e está extremamente relacionada as transformações ocorridas na puberdade, começando ao redor dos doze anos e finalizando, nos casos patológicos, ao redor dos dezoito ou vinte anos.
A imagem corporal é a percepção que temos de nós próprios e o que idealizamos ao pensarmos nos nossos corpos e aparência física. A imagem corporal é influenciada pelos padrões estipulados pela sociedade e a cultura que nos rodeia. A nossa família e as experiências individuais influenciam também a nossa imagem corporal.
A autoestima tem impacto no modo como vemos o nosso corpo e está relacionada com a maneira como uma pessoa valoriza as suas habilidades físicas, aptidões, capacidades interpessoais, papéis familiares e imagem corporal.
Pode desenvolver-se uma autoestima pobre se os padrões corporais “ideais” não forem alcançados o que poderá resultar em percepções erradas do tamanho, conceitos falsos da forma e sentimentos negativos sobre o próprio corpo. Pode desenvolver-se uma imagem corporal negativa ou influenciada por uma história de abuso (físico ou sexual), pela troça por parte de amigos ou familiares, por alterações na vida tais como mudar para uma escola nova ou para outra cidade, ou ainda por qualquer desenvolvimento físico resultante da puberdade, problemas de saúde, deformações relacionadas com cirurgia ou lesões desportivas.
Problemas com a imagem corporal e uma vivência de insatisfação corporal colocam uma pessoa em risco de desenvolver uma patologia alimentar. Os indivíduos com anorexia ou bulimia nervosa têm vulgarmente a noção de serem maiores do que na realidade o são, resultando numa imagem corporal negativa e intensificando os comportamentos dietéticos.
O aumento de comportamentos dietéticos está associada com a depressão, diminuição da autoconfiança, intensificação dos sentimentos de ansiedade, de se sentir pouco atraente e com a preocupação constante com o peso. As pessoas com uma imagem corporal negativa: descrevem sentir insatisfação quanto ao seu aspecto físico pensam que a sua aparência é alvo de crítica e avaliação por parte de outros dão uma importância excessiva ao aspecto físico ao autoavaliar-se tem uma preocupação angustiante com o próprio corpo sentem vergonha e/ ou acanhamento.
As pessoas com uma imagem corporal negativa podem: • fazer exames físicos excessivos (pesar, medir e provar roupa) • disfarçar o seu tamanho e forma usando roupa larga e grande • evitar situações sociais que possam desencadear uma autoconsciência física • evitar expor o corpo (não usando fatos de banho ou calções) Uma imagem corporal positiva revela: • autoconfiança, energia, vitalidade e autoavaliação positiva • sentimentos de beleza e atração • confiança e respeito pelo próprio corpo • liberdade de expressão corporal não dependente do peso
A terapia da imagem corporal e o aconselhamento poderá facilitar mudanças nos comportamentos alimentares e ajudar a ultrapassar os sintomas anômalos. Deverá ser dado ênfase ao trabalho com a imagem corporal no tratamento da anorexia e bulimia nervosa para que haja uma recuperação efetiva. A terapia da imagem corporal pode ser efetuada individualmente ou em grupo e inclui: intervenção cognitivo-comportamental, psicoterapia, grupos psicoeducacionais, terapia de movimento e de expressão artística, imagística guiada, compilar diários, desenvolver uma consciência política, consultar os media e grupos de apoio.